A conjugação que intitula o filme Sofia Foi, de Pedro Geraldo, indica uma impermanência no presente já de partida. A curiosidade provocada pela vida da personagem parece acompanhar a angústia de esperar que algo aconteça para além da melancolia. Os silêncios ao longo do caminho de Sofia correspondem a uma não-nomeação do que está sendo experimentado enquanto sujeito. O ambiente criado ali causa uma dúvida do que ainda vem: daí a angústia.
O carregar de malas, a dificuldade de se movimentar, o lugar público como ocupável... O vagar cria espaço para a possibilidade de contato, mas não dura: a vulnerabilidade sem a condição do contorno.
Penso se o trabalho como tatuadora não passa por uma necessidade de modificar uma pele que subjetivamente também está sendo rasgada, perdendo uma forma, ou de produzir uma materialidade que é o rasgar, que também é transformação, em outro corpo, mas que, em alguma medida, se espelha em Sofia.
Da impossibilidade de recursos simbólicos para constituir autonomia sobre os acontecimentos, resta a morte como decisão: a via do ato, do acting out a passagem ao ato como expressão de desejo. O acting out se endereça a um Outro da transferência e, por isso, é um enigma. Dessa relação há um resto, que é da ordem do desejo.
Sinto que o que fica é: como continuar desejante quando faltam recursos? Talvez essa seja uma questão de análise.
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